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O atual catolicismo às avessas: é preciso ter cuidado com a crença na salvação puramente individual 

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Julia A. Borges - publicado em 19/11/23

Compreender a fé que professamos é assimilar a aliança feita entre a humanidade e Deus, e perceber que a ligação que me une a Cristo é a mesma que une o meu irmão

O sintagma “católico” é de origem grega – katholikós(καθολικός), e seria uma espécie de junção de dois termos: kata (sobre – junto) e holos (inteiro, todo, total). A tradução corrente para a Língua portuguesa diz respeito a algo universal, que abrange tudo, e que reúne a todos. Mas indo um pouco além das questões etimológicas, é interessante refletir o entendimento teologal que diz respeito a esse adjetivo, afinal, é uma palavra que existe desde antes do nascimento da Igreja. 

O primeiro documento histórico que contém o termo e referindo-se  à Igreja é de uma carta de Santo Inácio de Antioquia à Igreja de Esmirna, escrita após a sua prisão, que o levou ao martírio em Roma: “(…) A comunidade se reúne onde estiver o Bispo e onde está Jesus Cristo está a Igreja Católica. Sem a união do Bispo não é lícito batizar nem celebrar a Eucaristia; só o que tiver a sua aprovação será do agrado de Deus e assim será firme e seguro o que fizerdes.”. Mas, essa palavra era usada também em outro sentido, por exemplo, São Justino usou a mesma palavra para referir-se à ressurreição geral, de todas as pessoas. O termo se aplicava também à universalidade do número das pessoas, numa imagem da Igreja que acolhe a todos em seu seio.

Todavia, a partir do século IV, com o surgimento de várias heresias, um outro sentido foi dado à palavra católica: São Cirilo de Jerusalém para comparar a fé ortodoxa com a fé herética, usa o termo fé católica. Ou seja, a verdadeira fé aceita a totalidade das verdades reveladas, enquanto que a fé herética escolhe aquilo em que quer acreditar, selecionando o que mais lhe convém e rejeitando os demais conceitos da fé. Desta forma, a palavra católica passou a designar não somente a Igreja que inclui todas as pessoas em todos os lugares, mas também a Igreja que inclui toda a fé, todos os sacramentos, todo o depósito e tesouro que foi deixado por Jesus Cristo e os Apóstolos. Assim sendo, a palavra católico não designa um ramo dos cristianismo. A fé cristã é católica por definição e não há outro verdadeiro cristianismo que não o católico.

Por conseguinte, compreender a fé que professamos é assimilar a aliança feita entre a humanidade e Deus, e perceber que a ligação que me une a Cristo é a mesma que une o meu irmão. Há, a partir disso, um entendimento de pertencimento que nos torna responsáveis também pelo outro, compromisso, por sinal não só esquecido mas também muito evitado pelo mundo egoísta que cada vez mais prioriza o hedonismo como forma de vida.

O compromisso católico que se estabelece não é de imposição ou autoridade para com outrem, mas uma caridade que vai além da simples doação, sobretudo, um amor que se revela completo na medida em que a relação pessoal com Deus se faz também através da intimidade que o meu irmão possui com Cristo. Afinal, buscar única e exclusivamente a própria salvação o torna fiel, entretanto, buscar a sua salvação através da salvação do outro o torna católico; porque não se trata de uma religião fechada em si mesma e que busca o aperfeiçoamento do eu a todo custo como fonte maior de revelação do divino. Trata-se, pois, entender que quando compreendemos verdadeiramente o profundo significado do amor, assim entendemos que o egoísmo através da busca pela autossalvação dá lugar à obtenção máxima de corações convertidos.

São inúmeras as evidências do amor de Deus para com o ser humano, mas talvez a prova mais inequívoca seja entregar o seu próprio filho a fim de morrer por nós. E se essa é a máxima do amor; como cristãos somos encorajados a utilizar deste exemplo para entender que o outro também faz parte da nossa missão, também faz parte do nosso aperfeiçoamento na fé, e, ao amar o outro, devemos perceber que este ato deve ser concretizado na medida em que nos esforçamos de igual modo a trazer o outro a Jesus, a fim de que a Igreja Católica, sobre a qual depositamos a nossa fé, possa abraçar cada vez mais pessoas, rumo à universalidade do amor cristão.

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